sábado, 14 de janeiro de 2012

TEMPORAL ... ou Meditação de Carnaval

Nem sei como me animo , mas lá vai...um delírio do carnaval passado.


TEMPORAL  ... ou

  Meditação de Carnaval

Que o Tempo é curto, é mediano, é longo  
Tal a vida é plena, é plausível, é dolorosa
O intuímos todos . Grande coisa! Pobre achado.
Abandoná-lo é sábio, impossível,  ousado
Não há seguro de que a vida bem flua
Se dela usarmos  dia após dia bocado a bocado.

Temporal vital, meu castelo exposto,
Meus heróis em ceroulas, ai de mim !


O Depois me cerca , esticando fios na ansiedade  solta
Zigue zague, ponto em cruz, nó de marinheiro
Tanta arte enfeita a insanidade do meu momento !
Do Amanhã não sei ,não lhe sinto  o fardo
Mas  farejo   o caos , rastejo na angústia ,crepito na dúvida
Sem morada certa  a dimensão Futura corre como comissão de frente
e zomba incertezas  entre  suores e lança-perfumes .
Só o Agora dança com peito aberto de  pipa
 Abrindo céus  e correndo riscos, valente .

Salve mestre  bailarino do Presente!
Solta do arame a dor serpentina  que presa geme
 A liberdade  só desatada  pelo  que é   verdadeiro !
Por isto  ele é unguento, é cânfora na chaga
Verdade curativa, abre alas !
 Entre feridas   purulentas , antigas, mal cicatrizadas .

Adeus tormento , país do depois ,  irreal  Passado
Em palco maldito  desfila sua   assombração ,
Fantoche de ilusão,covarde  mascarado
Geme de  esforço rompendo  camadas de tempos gelatinosos
Olho de vidro, caos na transparência ,
Sanduiche de borboletas  empaladas entre vidraças
             

Fantasma  do casulo ,do Passado , entalado sonha com o rasgo  ,
Adivinha-lhe    a liberdade  aerada, Futura.
Morador  de cripta  ,colecionador de pedras , cego de sol
Levita rígido  ,visitante de paraísos mornos, emoções orvalhadas
Amordaçado em sensibilidades endurecidas e  vontades flácidas.

Em  luta   inglória,perene, latente,  de besta, de colosso impotente
Fera sem garras , sem espada, sem dentes, sem bafo, sem nada.

O Presente   te toma ,  desarma ,perfuma, derruba e  vence
Templário sem armadura de um  Graal  sem busca
Jaz  em terra  sem escudo ,vencido, em malhas dominado
Criatura combalida ,de olhos embotados , derrota consentida
Em diáspora interna de alma e sentidos   , cai agora mortalmente    rendida.

Abre alas ,mestre dos mestres, Arlequim do Agora
 Vem jogar a liberdade de pomba
 Nas fuças do ventilador submetido  à tecla  forte
Preencher espaços com verdades em confetes brancos
Amores e humores  partidos,esparramados  por  carnavalescos  ares ,
Alucinados bailam em partículas , em plumas nervosas,  à própria  sorte.

Redemoinhos de força  bruta, poderosos Agoras
Enxertos de vitalidade, poções mágicas, anárquicos quereres
Ampulhetas  sem areia,  vontades com densidades
Esperanças calcificadas , estandartes   de novidades e poderes.



Salve    Arlequim , a alegria em tules 
Trovador ébrio de vida  com os arrebatadores  véus  do Momento  !
Vem que Pierrot tristonho dorme  
...um sono tímido , angustiado  de homem  sonhador  do Futuro
Vem que Colombina  torturada rumina
...inconformada , desejosa do amor do corpo e da alma  , alimentada por  sonhos outonais de mulher do Passado.

Mas ai de nós!  Foliões no temporal da vida ...
A brincar   de deuses , heróis , de seres atemporais ,
E  num bendito espasmo de luz, num ronco de cuíca ,
Momento raro ,desmascarado
 Que surpresa  ! descobrir  :
Só o homem do Presente vive a glória do momento dominado.

26-02-2011
(que viagem...e sem LSD !)

2 comentários:

Anônimo disse...

Evoé, poeta!
E que viagem maravilhosa!
Que os deuses permitam que nunca lhe falte inspiração e que vc continue a nos brindar com seus "delírios".
Bjs saudosos,
Terezinha

Martha Estima Scodro disse...

Denise, Denise, assim você me mata...