Nem sei como me animo , mas lá vai...um delírio do carnaval passado.
TEMPORAL ... ou
Meditação de Carnaval
Que o Tempo é curto, é mediano, é longo
Tal a vida é plena, é plausível, é dolorosa
O intuímos todos . Grande coisa! Pobre achado.
Abandoná-lo é sábio, impossível, ousado
Não há seguro de que a vida bem flua
Se dela usarmos dia após dia bocado a bocado.
Temporal vital, meu castelo exposto,
Meus heróis em ceroulas, ai de mim !
O Depois me cerca , esticando fios na ansiedade solta
Zigue zague, ponto em cruz, nó de marinheiro
Tanta arte enfeita a insanidade do meu momento !
Do Amanhã não sei ,não lhe sinto o fardo
Mas farejo o caos , rastejo na angústia ,crepito na dúvida
Sem morada certa a dimensão Futura corre como comissão de frente
e zomba incertezas entre suores e lança-perfumes .
Só o Agora dança com peito aberto de pipa
Abrindo céus e correndo riscos, valente .
Salve mestre bailarino do Presente!
Solta do arame a dor serpentina que presa geme
A liberdade só desatada pelo que é verdadeiro !
Por isto ele é unguento, é cânfora na chaga
Verdade curativa, abre alas !
Entre feridas purulentas , antigas, mal cicatrizadas .
Adeus tormento , país do depois , irreal Passado
Em palco maldito desfila sua assombração ,
Fantoche de ilusão,covarde mascarado
Geme de esforço rompendo camadas de tempos gelatinosos
Olho de vidro, caos na transparência ,
Sanduiche de borboletas empaladas entre vidraças
Fantasma do casulo ,do Passado , entalado sonha com o rasgo ,
Adivinha-lhe a liberdade aerada, Futura.
Morador de cripta ,colecionador de pedras , cego de sol
Levita rígido ,visitante de paraísos mornos, emoções orvalhadas
Amordaçado em sensibilidades endurecidas e vontades flácidas.
Em luta inglória,perene, latente, de besta, de colosso impotente
Fera sem garras , sem espada, sem dentes, sem bafo, sem nada.
O Presente te toma , desarma ,perfuma, derruba e vence
Templário sem armadura de um Graal sem busca
Jaz em terra sem escudo ,vencido, em malhas dominado
Criatura combalida ,de olhos embotados , derrota consentida
Em diáspora interna de alma e sentidos , cai agora mortalmente rendida.
Abre alas ,mestre dos mestres, Arlequim do Agora
Vem jogar a liberdade de pomba
Nas fuças do ventilador submetido à tecla forte
Preencher espaços com verdades em confetes brancos
Amores e humores partidos,esparramados por carnavalescos ares ,
Alucinados bailam em partículas , em plumas nervosas, à própria sorte.
Redemoinhos de força bruta, poderosos Agoras
Enxertos de vitalidade, poções mágicas, anárquicos quereres
Ampulhetas sem areia, vontades com densidades
Esperanças calcificadas , estandartes de novidades e poderes.
Salve Arlequim , a alegria em tules
Trovador ébrio de vida com os arrebatadores véus do Momento !
Vem que Pierrot tristonho dorme
...um sono tímido , angustiado de homem sonhador do Futuro
Vem que Colombina torturada rumina
...inconformada , desejosa do amor do corpo e da alma , alimentada por sonhos outonais de mulher do Passado.
Mas ai de nós! Foliões no temporal da vida ...
A brincar de deuses , heróis , de seres atemporais ,
E num bendito espasmo de luz, num ronco de cuíca ,
Momento raro ,desmascarado
Que surpresa ! descobrir :
Só o homem do Presente vive a glória do momento dominado.
26-02-2011
(que viagem...e sem LSD !)
2 comentários:
Evoé, poeta!
E que viagem maravilhosa!
Que os deuses permitam que nunca lhe falte inspiração e que vc continue a nos brindar com seus "delírios".
Bjs saudosos,
Terezinha
Denise, Denise, assim você me mata...
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