Pesquei uma passagem de um livro que estou lendo, e terminando com um sentimento enorme de pena por ter durado tão pouco: A lebre com olhos de âmbar de Edmund de Waal.
Um retrato muito bem tirado da vida de uma família de judeus oriundos de Odessa, que se instalaram em Viena e Paris a partir do final do século XVII. A descrição das duas cidades é minuciosa, para quem as conhece dá para passear de olhos abertos pelas ruas e lugares citados. O livro é sobre o caminho percorrido por uma coleção de netsuquês.
Quase no final, ele conta que uma das filhas desta família escreveu um livro, que não foi publicado, sobre a volta dela à Viena depois da II Guerra. E cita uma passagem do livro que eu copio aqui:
"É um livro sobre encontros. Ela escreve sobre a reação visceral de seu personagem a um oficial no trem qaundo chegam à fronteira, ao pedir seu passaporte:
Aquela voz, a enotnação atingia algures um nervo de garganta de Kuno Adler; não, abaixo da garganta, onde o ar e o alimento se mesclam nas profundezas do corpo; um nervo inconsciente, ingovernável, provavelmente no plexo solar. A qualidade daquela voz, daquele sotaque, suave e no entanto áspero, lisonjeiro e ligeiramente vulgar, sensível ao ouvido como um certo tipo de pedra o é ao toque - uma pedra-sabão, rugosa e esponjosa, e ligeiramente untuosa na superfície -, uma voz austríaca. "Controle de passaporte austríaco". "
Não imagino como seja uma voz austríaca, nem me emocionaria com ela, mas sei como é ouvir uma voz que reproduz "no plexo solar" uma voz que foi nossa muitos anos antes. Se não a voz, o sotaque.
Memórias, para que servem? São os nossos espelhos como Kundera escreveu?
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